11 de junho de 2009

capítulo 6. o formalismo russo e a escola de bakhtin

O movimento formalista floresceu aproximadamente entre 1915 e 1930. Desenvolvido em torno de dois grupos – o Círculo Lingüístico de Moscou e Sociedade de Estudos da Linguagem – estes teóricos planejavam construir uma sólida fundação ou poética para a teoria do cinema, comparável à poética da literatura.

Os formalistas partilhavam com Eisenstein uma espécie de “tecnicismo”, enxergando a arte como a prática de um “ofício’ comparável a de um artesão. Ao buscar uma abordagem científica, eles concentravam-se nas dimensões auto-expressivas. A arte intensificaria a percepção e provocaria um curto-circuito nas respostas automatizadas. Assim, sua função seria destruir as incrustações da percepção costumeira e rotinizada, alcançando um desvio das normas estabelecidas.

Os formalistas compreendiam a arte como um sistema isolado de signos e convenções, e não como o registro dos fenômenos naturais. Para eles, o cinema era um “sistema particular da linguagem figurativa”, cuja estilística trataria da “sintaxe” cinematográfica – a ligação de planos em torno de uma imagem-chave, como um close-up –, ao passo que uma “cine-oração” desenvolvia uma configuração espaço-temporal mais ampla. Apesar de identificar essas estruturas, a estética formalista valorizava não as regras corretas para a seleção e combinação de elementos, mas os desvios das normas técnicas e estéticas, como, por exemplo, a vanguarda futurista.

Os formalistas foram os primeiros a explorar uma analogia entre a linguagem e o cinema, influenciando teorias semióticas. Por outro lado, a contemporânea “Escola de Bakthin” desdenhava dessa espécie de edipalismo literário, com sua perpétua rebelião adolescente contra o que quer que fosse dominante e que abdicava de uma visão muito mais tolerante e de longo prazo da história artística.

Porém, Bakthin e Medvedev compartilhavam certas características com a poética formalista: a recusa de uma visão romântica e expressiva da arte; a rejeição da redução da arte a questões de classe e economia e a visões realistas ingênuas. Mas posicionaram-se criticamente com relação à fetichização formalista que considerava a arte como “a soma de seus procedimentos”, deixando apenas a sensação vazia, o prazer hedonístico da “desfamiliarização” experimentado pelo consumidor individual. Ao entender o formalismo como mecanicista, a-histórico e hermeticamente isolado da vida, o Círculo de Bakthin propunha uma abordagem translinguistica.

Por João Marcos Veiga de Oliveira - junho/2009