Introdução à teoria do cinema: manual do usuário
“A teoria do cinema é um corpo de conceitos em permanente evolução concebido para explicar o cinema em suas várias dimensões (estética, social, psicológica) para uma comunidade de estudiosos, críticos e espectadores interessados” Robert Stam (trad. Fernando Mascarello)
Introdução à Teoria do Cinema, de Robert Stam, oferece uma visão abrangente da teoria de cinema, tanto para os familiarizados quanto para leigos. Como afirma o autor, é um manual de instruções para a teoria da sétima arte. Seu texto é permeado de ruminanças pessoais, combinando sua voz com a voz dos outros autores. “Não me considero um teórico como tal; sou em vez disso, um usuário e um leitor crítico da teoria, um interlocutor da teoria.”, explica.
Nos 42 capítulos, Stam percorre desde as teorias pré-cinematográficas, que ajudaram na constituição dos primeiros textos sobre o cinema – que dizem respeito às discussões de estética, às especifidade do meio, ao gênero e ao realismo –, até as novas tendências digitais. Nesta colcha de retalhos teóricos, o autor recorre aos principais nomes da teoria do século passado (sem prender aos nomes, como afirma, e sim às idéias): impressionistas franceses, construtivistas russos, os psicólogos e os vanguardistas, além de referir-se constantemente a Bakhtin. O autor baseia-se em múltiplas molduras teóricas necessárias para a compreensão do cinema e combina cada uma dessas.
Apesar de traçar um histórico da crítica de cinema, Stam evita a abordagem cronológica linear da teoria cinematográfica. Em vez disso, apresenta uma teoria que varia conforme o país e época, provando que os movimentos e idéias podem ser convergentes em lugar de sucessivos e mutuamente excludentes. Para o autor, a ordenação sequencial em si já traz o risco de uma falsa casualidade, de que uma teoria vem depois de outra ou por causa de outra.
Universalização – A teoria do cinema é um empreendimento internacional e multicultural, mas frequentemente permanece monolingue, provinciana e chauvinista. Conhecedor da cultura e cinematografia terceiromundista (especialmente do Brasil), Stam espera com sua abordagem mais abrangente multiplicar as perspectivas e pontos de vista. Afinal, todos são dignos de interesse.
A exclusão de autores de fora do eixo Europa-Estados Unidos é, segundo ele, decorrente da hierarquia colonialista que relaciona a Europa a uma mente reflexiva e o resto do mundo a um corpo não reflexivo. Introdução à teoria do cinema rompe esta barreira e apresenta textos ainda pouco explorados, como, no caso brasileiro, Glauber Rocha, as primeiras críticas da revista Cinearte (Adhemar Gonzaga) e a cinematografia de Humberto Mauro.
Renan Damasceno - maio/2009