13 de junho de 2009

capítulo 11. o culto ao autor

As teorias e as críticas do cinema no final da década de 50 e início dos 60 eram guiadas por um movimento chamado autorismo. Esse movimento era influenciado pelas teorias existencialistas de Sartre: “a existência precede a essência”, e dessa forma, o cineasta era o centro do fazer cinematográfico, interferindo diretamente no estilo do filme.
O autorismo foi resultado dos estudos do cinema realizados em revistas da área, cineclubes, festivais de cinema, na Cinémathèque Française, em que eram projetados filmes norte-americanos.

Nessa teoria, relembrando o termo “cinema-caneta” de Alexandre Astruc, o cineasta deveria assinar o seu filme, valorizar o ato de filmar. Na época, o diretor de cinema era um mero serviçal da adaptação do texto. Sendo assim, o autorismo defendia a independência do diretor para realizar o filme a sua maneira.

François Truffaut foi um cineasta importante nessa corrente. Ele era contra o cinema institucionalizado, comercial, que possuía sua receita de bolo para fazer cinema. Truffaut não concordava com a “tradição da qualidade”, que adaptava clássicos da literatura para o cinema seguindo a mesma fórmula estética. Ao contrário da tradição de qualidade, Truffaut defendia o cinema independente norte-americano de Nicholas Ray, Robert Aldrich e Orson Welles. Para o cineasta, “o novo cinema se assemelharia a quem o realizasse, não tanto pelo conteúdo autobiográfico, mas pelo estilo, que impregna o filme com a personalidade do diretor.” (STAM, 2000, p.103). Hitchcock, para os Cahiers (críticos e cineastas que escreviam na revista Cahiers du Cinéma, principal difusora da teoria do autor) era um gênio da técnica cinematográfica e profundo metafísico, em que suas obra giravam em torno da “transferência da culpa”.

A discussão do autorismo antecedeu as décadas de 50 e 60. A legitimação do cinema como arte já suscitava a comparação de cineastas com pintores e escritores. Diretores como Griffith e Eisenstein haviam comparado suas obras com as de escritores como Flaubert e Dickens. Na década de 40, revistas de cinema defendiam uma produção artesanal, assinada.
A Nouvelle Vague, corrente formada pelos críticos e cineastas da Cahiers du Cinéma, era adepta a metáfora escritural, em que os filmes e artigos poderiam ser duas formas possíveis de expressão. Não é à toa que os filmes da Nouvelle Vague são cheios de referências à escrita. Para Godard, “estamos sempre sós, seja no estúdio ou diante de um papel em branco”.

A teoria do autor veio combater os quatro pontos centrais que circundavam o cinema naquela época:
· Menosprezo elitista do cinema por intelectuais do campo literário;
· Cinema é uma arte menor por ser uma expressão visual;
· Teoria da cultura de massa que acreditava no cinema como forma de manipular e alienar politicamente a massa;
· O antiamericanismo da elite literária francesa.

Para os defensores da teoria do autor, cineastas como Eisenstein, Welles e Renoir eram autores, como Hawks e Minnelli. Portanto, para os novos cineastas, o cinema norte-americano serviria como base para o cinema francês.

Bazin alerta para o perigo da teoria do autor de colocar o diretor como infalível. O autorismo, para o teórico, também deve se unir a outras correntes cinematográficas como a histórica, tecnológica e sociológica. Bazin cita o exemplo de Curtiz no filme Casablanca, que registra um momento histórico sem se afirmar como cinema de autor.

Briga Truffaut e Godard

Nouvelle Vague brasileira

Por Ana Carolina Jácome - junho/2009